por Katia Parente
Anhangabaú ou, água da face do Diabo. Índios, pretos e brancos lutaram, pessoas foram enterradas, enchentes arrastaram o que havia pela frente.
O Crime do Poço precedeu a construção de um edifício que faria parte da história. Um líquido inflamável, o ar condicionado, uma faísca, o lampejo de luz e de repente, o calor.
A temperatura subiu e tudo virou fogo. As trocas de calor provadas pela primeira lei da termodinâmica deixaram corpos e mentes incandescentes.
Qual vinho acompanharia essa história? Certamente um tinto encorpado, de preferência menos frutado e mais defumado.
E depois?
Os treze. Treze goles e uma gota escorrendo pela taça.
Cemitério esfumaçado pelas almas bamboleantes, águas poluídas que carregam todo tipo de corpo, mananciais místicos que atraem neblina e cegam os moradores.
A entropia aumenta, conforme a temperatura sobe e assim, surge o caos.
Lendas urbanas, imaginação popular, folclore. Seja como for, o vinho esquentou meu corpo, porém não tanto como o incêndio, que cobriu o prédio de chamas e aterrorizou seus ocupantes.
A acidez do vinho limpou a fuligem.
Se há ou não corpos ali enterrados, nunca saberemos. São histórias que ficaram na memória de alguns e são guardadas pelas palavras gravadas no papel por aqueles que tiveram coragem de escrever, porém só serão conhecidas daqueles que tiveram coragem para ler.
Bem vindos ao Cabernet Literário!