2ø Cabernet Literário 30/07/2022

por Katia Parente

Quando pensei em fazer os eventos presenciais do Cabernet, tinha a ideia de uma conversa descontraída sobre livros, degustando um bom vinho, então coloquei em prática.

Ainda é um evento tímido, não muito conhecido, porém com uma riqueza de informações incrível, que nem eu mesma esperava.

As pessoas sempre começam tímidas, por isso eu faço a leitura do texto de abertura, enquanto a primeira taça de vinho é servida. Neste encontro foi um branco da uva Lorena, muito cítrico e fresco, que serviu como impulso para iniciar as conversas. Em seguida, abri a palavra para quem quisesse comentar alguma coisa sobre o livro, ou ler algum trecho e aos poucos a conversa evolui.

Desta vez, o tema intimidou alguns, a mim mesma inclusive, pois o livro Vozes do Joelma traz lembranças assustadoras, assim como desperta sentimentos um tanto perturbadores. O livro é com base em fatos reais, embora seja uma ficção, traz à tona as cenas de pessoas queimadas e os fantasmas que foram vistos depois, no cemitério onde estão enterrados os restos mortais das treze pessoas sufocadas no elevador. Alguns disseram que foram dezessete, na verdade. Tanto um número quanto outro, fizeram as expressões de rosto se contraírem.

Foi servida a segunda taça, um tinto da uva Merlot que infelizmente desta vez foi reprovado pela maioria, já que o vinho parecia muito frutado, quase um vinho de garrafão, para ser bem sincera.

Mesmo assim, outros vinhos foram pedidos e os comentários surgiram com um conteúdo rico, repleto de cultura e conhecimento sobre a história do centro da cidade.

Na mesa havia advogados, professores, publicitários, administradores, arquitetos e profissionais da saúde. Cada um trouxe sua visão e sua experiência sobre o assunto, lembrando que muitas normas de segurança foram criadas após o incêndio, tanto do Joelma, como do edifício Andraus. Como escadas de emergência protegidas por portas corta-fogo, treinamento da brigada de incêndio da empresa e até mesmo os terraços e sacadas presentes em todos os prédios modernos.

Também veio à tona as lembranças de quem era criança na época, ouvindo os pais que testemunharam o desastre e chegaram em casa contando, impressionados com as labaredas que consumiam a construção. Todos ali presentes, de alguma forma, tinham um relato para contar sobre o ocorrido, que quase cinquenta anos depois, continua chocando as pessoas.

Contos sobre as  histórias do centro da cidade de São Paulo, palco de glamour e miséria, representados pelos teatros e prédios luxuosos, cercados de barracas e cabanas de moradores de rua e dependentes químicos que ocupam as calçadas.

Não é bonito de ver, nem mesmo o que almejamos para uma cidade de negócios internacionais, porém cada pedra do mosaico no chão, assim como cada detalhe das construções, cada lixo jogado no caminho, são marcas da história da cidade, que com certeza, preenche um bom espaço na história do Brasil.

O encontro foi finalizado com o sorteio de um livro A Lenda do Vale Seco e outro do Cabernet Literário, livro artesanal que foi a surpresa da noite.


E para não deixar esfriar a conversa, já anunciei mais um Cabernet Literário, desta vez com um livro árido, porém repleto de fantasia e amizade: A Lenda do Vale Seco.